
Para começo de conversa,um poema.
O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato
O bicho, meu Deus, era um homem.
Não sei qual foi à inspiração do poeta Manuel Bandeira ao escrever, mas ontem tive a triste e dolorosa experiência de ver esse poema se concretizando a minha frente...
Eram duas pessoas, em meio a um amontoado de lixo, ingerindo desesperadamente o que vinha pela frente, elas não me viram, assim como não são vistas por nós.
Não sei explicar bem o meu sentimento naquele momento, vontade de gritar: - Parem com isso. Hipocrisia, Hipocrisia... Até parece que resolveria a situação. Eu com minha barriga cheia, indo para casa após mais um dia, e tendo uma cama macia, um teto, amigos, famílias, é fácil olhar para aquela situação e olhar, com olhos de quem não tem idéia do que é sentir fome.
E você sabe o que eu fiz ? Nada, passei direto, comovida com a situação, mas comoção não enche a barriga de ninguém.
Estas poucos palavras são uma forma de minimizar o peso na consciência, de alguém que fica indignada com as injustiças, mas não faz nada para melhorar a situação.
E você tem feito algo para mudar o que não te incomoda?
Paty...
ResponderExcluirAcabei de ler. Meu Deus, verdade. É triste a atual situação do nosso país. Sinto-me muitas e muitas vezes como você: Pena, comovente, porém quase sempre não faço nada. Sei que temos parte da culpa, mas não fique se culpando por todas a coisas que acontecem de ruim em nosso meio. Faça o que estiver ao seu alcance e ore para que essa nova geração de pessoas que estão entrando nas nossas universidades, que mais tarde serão líderes, possam mudar esse quadro assolador.
Um forte abraço,
de seu amigo Aquillas Paulo.